quinta-feira, 23 de julho de 2009

A POLÍTICA DE "VERDADE"

Todos os políticos se queixam do crescente distanciamento entre os cidadãos e os partidos políticos. Mas poucos dão exemplos cívicos no sentido de restaurar a confiança perdida entre os cidadãos e os seus representantes eleitos.

O PSD de Tomar é um caso paradigmático. O lema de Manuela Ferreira Leite desde que chegou à liderança do PSD tem sido a “política de verdade”. Ora, eu não sei se Manuela Ferreira Leite tem conhecimento do que se tem passado no PSD de Tomar e na forma como o partido tem faltado aos compromissos assumidos com o eleitorado.

Já não falo das promessas falhadas, dos anúncios para enganar as pessoas antes das eleições que nunca se chegam a concretizar depois das eleições, já não falo desta “costela Sócrates” do PSD de Tomar nos últimos anos. Falo de confiança. De confiança entre quem elege e quem é eleito.

A primeira condição de confiança entre os eleitores e os seus representantes é que estes, uma vez devidamente eleitos cumpram integralmente os seus mandatos. Salvo motivo de saúde ou de força maior, isto é o mínimo que se exige a quem pede o voto e a quem recebe esse voto para cumprir um programa e respeitar os compromissos que assumiu quando pediu exactamente esses mesmos votos.

Ora o último presidente da Câmara Municipal de Tomar eleito pelos cidadãos decidiu abandonar as suas funções, trocando-as certamente por outras melhor remuneradas e mais vantajosas. O PSD vendeu “gato por lebre”. Candidatou António Paiva e saiu Corvelo de Sousa. Assim, Tomar tem hoje um presidente de Câmara que não escolheu, e que elegeu para vereador, mas não para presidente. Se tem sido Corvelo de Sousa o verdadeiro candidato do PSD há quatro anos os resultados eleitorais teriam sido o que foram? Certamente que não.

Agora, aproximam-se de novo eleições autárquicas. E, desta vez, o PSD diz que adoptou finalmente uma “política de verdade”. Que seja bem vindo. Mas os cidadãos de Tomar têm toda a legitimidade para perguntar ao PSD:

1º O candidato Corvelo de Sousa, caso seja eleito, o que sinceramente penso que não acontecerá e que, a acontecer, seria um desastre político, mas que é sempre uma hipótese democrática a considerar, cumprirá o mandato até ao fim? Será capaz de dar a sua palavra aos tomarenses de que assim será?

2º O candidato Corvelo de Sousa, caso seja eleito, cumprirá apenas o tempo de exercício de mandato necessário para atingir a idade da reforma e abandonar então as suas funções à semelhança do que fez o seu antecessor?

3º Existe ou não um acordo no sentido de, no momento de atingir a idade da reforma, Corvelo de Sousa passar o lugar a Carlos Carrão, tendo sido esta a forma que o PSD de Tomar encontrou para evitar uma candidatura independente do vereador Carrão, e passando Tomar a ser, nessa circunstância um exemplo de aberração democrática, tendo em dois mandatos consecutivos dois presidentes de Câmara não eleitos para esse fim pelos cidadãos?

4º É o candidato Corvelo de Sousa capaz de garantir solenemente aos tomarenses que, caso seja eleito, cumprirá o seu mandato até ao fim, não repetindo o mau exemplo que deu o seu antecessor?

A resposta a estas perguntas é fundamental para dar transparência às próximas eleições. É muito feio enganar os cidadãos. Mas, pior do maus exemplos individuais, é dar consecutivos maus exemplos políticos, que põem em causa a confiança das pessoas nas instituições democráticas.

E será um exemplo da tal “política de verdade” quer o PSD descobriu em 2009.

Jorge Ferreira

(publicado na edição de hoje de O Templário)

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