quinta-feira, 23 de julho de 2009

PROJECTOS DE MILHÕES EM ANO DE ELEIÇÕES

O povo tem uma expressão que se encaixa na perfeição à cerimónia que se realizou na passada sexta-feira no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em Tomar: “Quando a esmola é grande o pobre desconfia.”

Como estamos em ano de eleições e o PSD, sabe e bem, como aliás já o fez em anteriores eleições, há que mobilizar os “crentes” para cerimónias onde são apresentados projectos megalómanos, que mais tarde se têm vindo a revelar um fiasco, com grande prejuízo para o concelho. Recordo o Parque Temático. Como já tive oportunidade de escrever aqui, acreditei nessa ideia que foi apresentada há mais de 10 anos com pompa e circunstância no Hotel dos Templários, perante todas as forças vivas da cidade, incluindo representantes de várias instituições e personalidades da região.

Um projecto tão bom que nunca passou de meras intenções, apesar do esforço dos espanhóis em serem recebidos pelo presidente da Câmara. O projecto acabou por morrer, porque os espanhóis têm mais que fazer. Até hoje nunca foi explicada a razão do abandono deste projecto.

Depois foi o Programa Polis. Também acreditei profundamente na sua realização onde se previa a recuperação e requalificação das margens do Rio Nabão, da cidade ao Açude de Pedra, com a construção de uma ciclovia e um parque de cidade, onde os cidadãos poderiam usufruir o rio e praticar desporto de manutenção. Acreditei que a mais-valia do Programa Polis passava, como era esperado, pela requalificação do Flecheiro, onde se incluía o realojamento das famílias de etnia cigana. No fim de contas, as obras ali realizadas não passaram de uma cosmética à base de betão, descaracterizadora, igual a tantas outras, por esse país a fora, cujo resultado tem provocado muita discussão. Quanto às famílias de etnia cigana, aguardam por novas promessas, de preferência que sejam feitas em anos de eleições.

Assim, o que tenho a dizer, sobre a cerimónia da passada sexta-feira e tendo em conta a exequibilidade de projectos anteriores, é que desconfio profundamente de tudo o que foi anunciado. No entanto, façamos votos para que os projectos se cumpram.
Não posso deixar de frisar que também nos devemos preocupar com o presente. Os problemas de desemprego e de falta de perspectivas para largas centenas de famílias no concelho é uma ameaça permanente. Poderemos ter a cidade mais bem requalificada e regenerada da região, mas se não tivermos pessoas, não nos vale de nada.

Por outro lado, não posso deixar de referir, que enquanto o executivo de maioria social democrata tenta prender a atenção dos munícipes com projectos desta natureza, a mesma maioria não tem sabido resolver os pequenos problemas do dia a dia. Limpeza, conservação e embelezamento de algumas ruas, deficiente iluminação pública em várias zonas da cidade, buracos e rupturas que levam semanas para serem solucionados, deficiências na sinalética, falta de estacionamento e a ausência, entre outros, de um plano de intervenção no mercado municipal, cujo aspecto actual é do mais porco e terceiro-mundista, que temos visto, apesar dos inúmeros protestos e reclamações dos comerciantes do mesmo. Pois aqui também vale a velha máxima: “os homens definem-se nas pequenas coisas!” Quem não consegue solucionar os pequenos problemas, muito menos consegue realizar grandes obras, neste caso concretizar os grandes projectos.

Contudo, saliente-se que o “Programa Estratégico Rede de Mosteiros Património da Humanidade”resulta “da mobilização e colaboração entre os concelhos de Alcobaça, Batalha, Lisboa e Tomar, com o objectivo de promover, de forma integrada, o elevado capital cultural e simbólico reforçado pela existência de monumentos Património da Humanidade, com o selo da UNESCO.” Aguardamos ansiosos por esta valorização.

Esperamos, sinceramente, que no final isto não acabe na emissão de vários panfletos distribuídos pelos interessados com a chancela de um grande programa estratégico de rede de mosteiros património da humanidade.

Eu pergunto, a quem se pretende enganar? Sugiro, no entanto, que tenhamos a coragem de abordar também outros problemas prementes.

Isabel Miliciano

(publicado na edição de hoje de O Templário)

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